
Com olhos abertos ao prazer
Uma noite de delícias e potências com sálvia esclareia.
Gravação e um poema
Senha para acessar a gravação: Y#!eG6q6
Playlist do encontro
[sobre estar vivo]
Estar vivo: não só a carcassa Mas a fagulha. Digo isso de modo cru, mas… Se não é para dançarmos, Por que tanta música?
– Gregory Orr
Algumas propostas
Nesta semana, falamos de prazer e de permissão. Falamos sobre as transformações possíveis de um olhar liberto, o que enxergo (de mim, do presente, do passado e para o futuro) quando posso ver de acordo com os meus próprios parâmetros?
Nesta semana, o convite é de reflexão profunda: quais os parâmetros, as crenças, os critérios e as medidas que adoto como meus determinantes sem reflexão? Sem que eu os escolha? O que eu, de repente, obedeço sem ao menos me questionar? Quais as regras secretas que eu inventei ou que eu sigo e que podem mudar? E, aqui, porque essa reflexão pode se desdobrar por tantos caminhos, sugeriria concentrá-la sobre os pontos do prazer, do contato e permissão com relação ao próprio corpo, ao descanso, à alegria e ao amor. Claro, cada uma poderá sentir os temas que melhor se encaixam ao seu momento, mas manteria também esses em mente.
A pergunta é, no fim, o que de mim quero deixar se manifestar?
Fazemos esse trabalho inicial, de escavação e de reencontro para isso, para saber se, o que neste ciclo vai ao mundo é aquilo que de mim aflora, floresce, ou aquilo que, da pele para fora, me é demandado, incumbido. O papel social é um incumbência que aceitamos sem muito pensar, a condição-feminina-num-mundo-patriarcal também o é. Endurecer para sobreviver, a inútil futilidade fêmea, a inútil e vulgar futilidade do nosso prazer, a obrigação ao cuidado e ao seu sacrifício de nós… Quanto dessas determinações genéricas, antiquadas, falsas, nós adotamos internamente sem perceber? A escavação inicial, tecendo o reencontro com a voz, com a força e com os próprios critérios – ou ao menos a nossa possibilidade sobre eles refletir – é o que nos possibilita pensar e refazer o caminho para nós mesmas. Com amor, com alegria, com os parâmetros que nós escolhemos seguir. E isso não é um chamado à psicopatia do indivíduo livre e desencumbido, é o contrário, é o passo firme, de dragão e flor, que gesta algo com o qual estamos profundamente envolvidas, por meio do qual nos implicamos inteiras no andar do mundo.
Para isso, é sálvia nossa guia, amorosa e exigente, nos conclamando à visão.
1. Uma atenção às formas de falar.
Dedicar especial atenção nesta semana aos modos como se trata. Existe impaciência? atropelo? exigências isentas de amor, de carinho? Quais os olhares que deitamos sobre nós mesmas? Como esses olhares se manifestam sobre os modos de nos tratar?
E essa atenção não precisa ser desdobrada em culpa ou julgamentos, mas pode nos servir de guia para a transformação: se identifico que uso, por exemplo, demais a palavra “dever”, posso me deter quando a ouvir em mim, refletir sobre o que faz com que eu sinta que algo é um dever meu. Será mesmo um dever? designado por quem? O que é um dever para mim? Estou inteiramente de acordo com isso – mente, corpo, peito, barriga? Existe outro termo que posso empregar em seu lugar que me permite mais espaço? que me contempla de forma mais amorosa? que modifica os termos de relação entre eu e a coisa “devida”?
Pense nisso como um exercício investigativo. A mera atenção já vai nos transformando, vamos recobrando aspectos de uma liberdade interna quando nos permitimos dialogar com aquilo que, de modo geral, passa batido mas nos condiciona. Podemos inventar outras formas de fazer as mesmas coisas de sempre. E podemos testar mil invenções diferentes, sem precisar inventar uma nova regra – de repente, não é de mais regras que precisamos…
Entendam, este não é um grito niilista e anárquico… é um chamado à visão. Um convite para olharmos conscientemente e nos posicionarmos com amor, com criatividade.
2. Uma reflexão simbólica no corpo
Nas práticas corporais desta semana, experimentamos principalmente com a integração dos nossos olhos à nossa pelve. Essa dupla é extremamente potente quando falamos da nossa segurança no mundo, da nossa confiança e dos modos possíveis de relaxamento – lembrando que a ação pode ser tensa ou relaxada, assim como o descanso e a pausa – que a conexão com a nossa base permite. Acessamos a nossa força por meio da representação com as mãos. As mãos que aproximam aquilo que quero, que afastam aquilo que não quero. As mãos que carinhosamente me acolhem e amparam, que me tocam e recebem.
Investigamos recursos internos e encarnados que ampliam as nossas formas de relação com o mundo; formas, estas, que tendem a ser, no dia a dia, meramente mentais.
A partir dessa experiência e de suas formas particulares de vivê-la, proponho uma brincadeira de reflexão. Abaixo, encontram o link para a imagem de uma carta de tarô. Sem buscar explicações externas, as convida a se relacionar com seu desenho, a se deixar levar pelos meandros que esse contato pode desdobrar, anotando tudo aquilo que te vem à mente e ao corpo: afetos, ideias, imagens e sensações. Acho que pode ser uma prática interessante e de expansão a partir do contato com essa imagem arquetípica.
Experimente a reflexão, de repente, com a sálvia ou depois de fazer alguma prática de respiração ou corpo. Note como essas mudanças sutis também reverberam nas nossas formas de enxergar as coisas.